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Retratos de Mim

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A Blogger

24
Abr17

Sou filha da emigração


A Ribatejana

 

Photographie : Parc d'Avaucourt

 

Nasci em França no ano de 1971, num frio dia de Janeiro, lembro-me dos primeiros anos que passei nesse país, recordo-me sobretudo da escola primária, onde a xenofobia estava patente, embora mascarada, nunca teria ido muito longe nos estudos, se os meus pais não tivessem resolvido voltar para Portugal, pois eu estava destinada, tal como muitos filhos da emigração, a seguir um ensino profissional e posteriormente a encarar um trabalho, que nao me agradaria, talvez viesse a ser cabeleireira, ou ainda caixeira, pois era esse o destino de grande parte dos filhos de emigrantes, portugueses ou não, durante a década de oitenta. Lembro-me de ter frequentado uma segunda classe portuguesa, porque naquele ano o meu pai fizera uma tentativa para voltar ao país, recordo-me perfeitamente de ter  passado de ano, isto apesar das minhas dificuldades na língua materna, pois eu sempre ouvira os meus pais insistirem, para que comunicasse na língua de Camões, contudo um ano depois estava de novo em França, e acreditem ou não, mas o Ministério da Educação Francesa, considerara a segunda classe portuguesa não válida, moral da história, era como se tivesse reprovado de ano.

Alguns anos depois, regressei de vez à terra dos meus pais, não foi fácil, não conhecia ninguém, apesar de  todos me conhecerem, algo estranho mas normal em terras pequenas. Lembro-me que nesse primeiro ano, fiquei numa  turma de miúdos infernais, mas não fora só eu, pois verificara que outros filhos da emigrantes estavam na mesma situação. No ano seguinte tudo mudou, os professores eram melhores, os colegas diferentes, começava a integrar-me, depois vieram os anos felizes,os amigos verdadeiros, colegas que relembro com saudades, alguns com quem ainda partilho conversas, sobretudo nas redes sociais, enquanto outros moram para sempre nas minhas lembranças. Hoje sou uma mulher com quarenta e muitos anos, que se sente uma filha da terra, embora por vezes a terra não me queira reconhecer como tal. Hoje sou portuguesa de sangue e de alma, embora uma pequena parte de mim ainda more lá longe, naquela infância, onde o cheiro a relva acabada de cortar , ainda me assalte as lembranças.

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